“Ali nas proximidades do Colégio Santa Rosa de Lima, a sede da colônia teve início. Os imigrantes e seus descendentes, cada um com seu lote de terra, derrubaram mata, construíram seus casebres e finalmente plantaram suas roças. Enquanto ia abrindo uma clareira para as primeiras semeaduras, já escolhia o local adequado para a construção do rancho provisório de uma só peça que lhe servia de moradia.”
Vicente Cardoso – Vila 14 de Julho – 1929.
As lembranças da Sede 14 de Julho remetem aos caminhos traçados pelos pés dos primeiros moradores que abriram picadas em meio à vegetação. O pequeno núcleo estava localizado nas proximidades do Lajeado Pessegueiro, cujo nome deve-se a uma grande quantidade de árvores frutíferas, principalmente de pessegueiros silvestres, que cresciam em suas margens. Ali havia água cristalina que corria à vontade. Aquela água era preciosa e atendia todas as necessidades dos habitantes. A distribuição era feita em barris, para todas as casas, em carroças puxadas por cavalos que pertenciam à Comissão de Terras e Colonização.
A Colônia foi criada de acordo com o plano governamental estabelecido para a zona rural, e também para a zona urbana, onde foi instalado o escritório de administração e controle.
De acordo com a antiga divisão política do Rio Grande do Sul, a região de Santa Rosa pertenceu primeiro ao município de Porto Alegre, depois foi ligada a Rio Pardo e, por fim, a Santo Ângelo. No ano de 1876, foi criado o Distrito de Santa Rosa. Porém, o processo de colonização só teve início a partir de 1915 com o projeto de loteamentos de terras para assentar a comunidade que já habitava a região, formada por mestiços e caboclos resultantes da miscigenação entre portugueses, índios e negros.
As primeiras culturas plantadas na Colônia Santa Rosa foram milho, feijão centeio, batata-doce, cana-de-açúcar e mandioca. A cultura do milho representou a sustentação inicial da Colônia, juntamente com a criação de suínos e a venda de madeira. Os empreendedores coloniais conseguiram erguer no meio da mata, com poucos recursos, empresas que alcançaram décadas de existência.
A riqueza florestal serviu de base para o desenvolvimento da indústria madeireira no período colonial de Santa Rosa, entre 1915 e 1931, abastecendo o Rio Grande do Sul e as províncias argentinas de Corrientes, Entre Rios e Buenos Aires, através do transporte fluvial pelo Rio Uruguai. Os ervais nativos eram outra fonte de riqueza. Em 1927, havia 11 indústrias ervateiras na Colônia Santa Rosa que produziam mais de 100 mil quilos de erva-mate por ano.
Entre os primeiros comerciantes que se estabeleceram na sede da Colônia Santa Rosa estão João Macluf, os Irmãos Krebs, José Macluf, Guilherme Matter, Roberto Comte, Alfredo Joner e Emílio Schmorantz. Aos poucos, outros comerciantes foram chegando, atraídos pelo desenvolvimento. Nos distritos, os primeiros comerciantes foram Reinaldo Mundstock, Eduardo Lückemayer, Germano Dockhorn, Irmãos Vontobel, Alexandre Ortmann, Jacob Nedel e Guilherme Carlson, entre outros. Em 1930, a Colônia Santa Rosa já contava com 189 casas comerciais. Entre elas havia 12 lojas de artigos variados e 36 de gêneros alimentícios.
A Colônia Santa Rosa crescia em ritmo acelerado. Em 1923, a população atingia a marca de 25 mil habitantes. E desenvolviam-se também, os empreendimentos e negócios locais.
Em pé, da esquerda para a direita: Alfredo Andara, Silvio D. Martins, José Maciel, João Macluf, Estanislau Kotlinsky, Antônio Cappellari, Vergilio Lunardi, Constantino C. Liberali, Luiz Kurkowsky, Pias, Fernando Albino da Rosa, José Macluf, Dr. Bellanca, Benjamin Vargas, Armando G. Guindo, Luiz Zenni e Gumercindo Albrecht. Na frente, junto com Gumercindo Albrecht, está o menino Lídio Liberali. Ao fundo o “nego” Leque, tendo no colo Saul Dante Liberali. Fonte: Museu Municipal de Santa Rosa (RS).
Vários locais públicos embelezavam a cidade, destacando-se a Praça da Independência, onde se encontra o busto do Patriarca da Independência José Bonifácio.
Entre as iniciativas fundamentais empreendidas nos primeiros anos da Colônia Santa Rosa estavam as atividades comerciais. Os chamados bolichos, ou vendas, como eram conhecidos os primeiros estabelecimentos comerciais, representavam fatores fundamentais de coesão na colônia.
As maiores dificuldades para o desenvolvimento do comércio encontravam-se nas precárias condições de transporte, nas estradas mal conservadas e no alto preço cobrado pelos fretes. Entretanto, mesmo essa difícil conjuntura não impediu o crescimento comercial e industrial de Santa Rosa, impulsionado pelo desenvolvimento local e regional.
Primeiro posto de gasolina do município, em 1930. Ficava na Rua Santa Rosa, esquina com a Rua Guaporé.
Há vários anos, a emancipação política de Santa Rosa vivia na vontade e nos sonhos de seus habitantes. Essa aspiração se concretizou no dia 1º de julho de 1931, quando José Antônio Flores da Cunha, Interventor Federal do Rio Grande do Sul, assinou o Decreto nº 4.823 emancipando e elevando Santa Rosa à categoria de município. Era o 82º município a ser emancipado no estado. Arthur Ambros, que ocupava o cargo de administrador da Colônia Santa Rosa, foi nomeado Interventor, tornando-se o primeiro administrador municipal. A Comissão Emancipatória preparou uma festa para a instalação solene do município, realizada na sede da Sociedade Lírica Concórdia, no dia 10 de agosto de 1931, com a presença de grande público. Desde então, esta tornou-se a data comemorativa do aniversário de Santa Rosa.
O interventor municipal Pautilho Palhares lançou os fundamentos para a construção da nova sede da Prefeitura Municipal, a partir de 1942. O local escolhido foi a quadra nº 73 da Praça da Bandeira. O prédio estava sendo erguido em local praticamente vazio, onde o matagal recém havia sido derrubado. As obras ficaram a cargo da Construtora Medaglia, de Santo Ângelo. Vizinhos ao prédio da administração municipal estavam o edifício da Estação Ferroviária (1940) e dois armazéns que recebiam e exportavam cargas pela via férrea na Estação Cruzeiro.
Agregava diversos órgãos públicos: o Fórum, o Cartório de Registro Civil, a Delegacia de Polícia, o IBGE, a Secretaria de Agricultura, a Câmara de Vereadores, a Sala do Júri e a Sala dos Juízes, além de todos os espaços destinados à administração do município. Posteriormente, o prédio também abrigou a Escola Machado de Assis e a Biblioteca Pública Olavo Bilac que havia sido criada na gestão do interventor Pautilho Palhares, conforme Lei Federal nº 1.202 de oito de abril de 1939, e era filiada ao Instituto Nacional do Livro.
A inauguração do ramal ferroviário da Estação Giruá até Cruzeiro havia ocorrido em 1937. Para que os trilhos do trem chegassem à região estratégica de Santa Rosa faltavam apenas 5 quilômetros de ferrovia. Após três anos de espera e muitos trâmites políticos, foi finalmente inaugurada a Estação Ferroviária de Santa Rosa, em 12 de maio de 1940. O momento foi marcado pela chegada de um trem todo embandeirado, conduzido por autoridades e pelos engenheiros que atuaram na construção do ramal ferroviário.
Santa Rosa orientava-se, cada vez mais, para a industrialização dos produtos agrícolas (madeira, banha, arroz, fumo, vinho, conservas, manteiga, queijo) que eram enviados à capital do Estado, Porto Alegre. Do incremento das ações comerciais e industriais surgiu o impulso da cidade nova, onde a alvenaria já substituía a madeira das primeiras construções, e bairros residenciais começavam a se estender tão depressa como se erguiam as lojas e as fábricas.
Em 1945 terminou o Estado Novo, período de regime autoritário no Brasil. Foram então estabelecidas eleições democráticas em todo território nacional. O primeiro prefeito eleito em Santa Rosa, no novo regime, foi Alfredo Leandro Carson. Naquele momento, a Associação Comercial e Industrial de Santa Rosa lutava para incrementar a industrialização do município. Para isso, era necessária maior disponibilidade de energia elétrica, que ainda era bastante escassa. Para expor tal dificuldade e reivindicar soluções, a Associação Comercial e Industrial de Santa Rosa encaminhou um memorando ao prefeito Alfredo Leandro Carson solicitando urgência para a questão que representava um grande entrave ao desenvolvimento econômico.